Líderes religiosos de diferentes crenças, indígenas e sociedade civil debatem pela primeira vez justiça climática no G20

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Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2024 Em uma iniciativa inédita na história do G20, o Brasil promoveu a primeira Cúpula Social, abrindo espaço para que a sociedade civil líderes religiosos, indígenas, ativistas e representantes da sociedade civil de todo o mundo, participassem ativamente das discussões sobre os desafios da economia global. O evento, que aconteceu dias antes das atividades da Cúpula, no Rio de Janeiro, consolidou o compromisso da presidência brasileira em garantir que diferentes realidades sejam consideradas nas decisões tomadas sobre economia e governança globais.

Dentro desse contexto de ampliação do diálogo e busca por soluções mais justas e sustentáveis, aconteceu  o debate “Comunidades de Fé no Enfrentamento da Crise Climática”, organizado pelo Instituto de Estudos da Religião (ISER). O encontro, realizado no Armazém 3 da Praça Mauá, reuniu líderes religiosos de diferenças crenças, indígenas e ativistas  para discutir o papel das comunidades de fé no combate às mudanças climáticas.

Fé e ação pelo planeta: lideranças religiosas, indígenas e ativistas unidas na luta por justiça climática no G20

A mesa “Comunidades de Fé no Enfrentamento da Crise Climática” contou com a participação de importantes vozes na luta por justiça climática e ambiental. Estiveram presentes: Júlia Rossi, Coordenadora do GreenFaith Brasil; Aava Santiago, vereadora em Goiás e ativista socioambiental; Marize Guarani, liderança indígena da etnia Guarani e defensora dos direitos dos povos da floresta; Mãe Nilce de Iansã, representante do candomblé e ativista na luta contra o racismo religioso; e Padre Gegê. O debate foi mediado por Clemir Fernandes, pesquisador e diretor adjunto do Instituto de Estudos da Religião (ISER).

O debate, mediado por Clemir Fernandes do ISER, buscou responder à seguinte questão: como comunidades de fé podem contribuir para ações concretas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas? A partir das experiências compartilhadas, os participantes destacaram a importância da colaboração entre diferentes tradições religiosas e a união com povos tradicionais na luta por justiça climática e na pressão por políticas públicas eficazes em defesa do clima.

 

Julia Rossi, Coordenadora do GreenFaith Brasil, uma das palestrantes do evento apresentou a “Aliança Sagrada pelo Clima”, iniciativa que mobilizou líderes religiosos e ativistas de diferentes regiões do país para criar uma agenda em comum por justiça climática junto ao Governo Federal no Dia da Amazônia. “A ‘Aliança Sagrada pelo Clima’ demonstrou a força da fé como ferramenta de incidência política”,  e destacou uma parte do texto da carta entregue à ministra Marina Silva em Setembro deste ano:  “As comunidades religiosas têm um papel fundamental na conscientização e na mudança de comportamento em relação à crise climática. Através da criação divina encontramos o sagrado nas florestas, nos rios, nos diversos elementos da natureza, nos animais, nas pessoas. Ao testemunharmos a destruição de ecossistemas essenciais, sentimos que não apenas a natureza está sendo violada, mas também os princípios espirituais que guiam nossas vidas. A proteção da natureza não é apenas uma questão ambiental, mas um dever espiritual e moral”, complementou.

Julia Rossi (à esquerda) e Carla Bianco (à direita) fazem parte da equipe do GreenFaith Brasil. Organização presente em 10 países trabalhando com campanhas e ações para impedir o avanço de projetos de combustíveis fósseis.

Rossi ainda ressaltou a importância da Aliança Sagrada pelo Clima como um espaço de aprendizado e troca de estratégias entre líderes religiosos e ativistas. “Agora, precisamos multiplicar esse debate para as comunidades de fé e para os territórios impactados pela indústria de petróleo, pelo desmatamento e a mineração.”, concluiu.

Na sequência, Aava Santiago, vereadora de Goiás, complementou a fala de Rossi, afirmando que “destruir a natureza é um pecado, é contra as leis de Deus”. Santiago, que também é ativista socioambiental, trouxe um relato comovente sobre os impactos das queimadas no Cerrado em sua região. “Há um mês o Cerrado, de onde eu venho, estava pegando fogo”, relatou. “Meu filho e muitos de seus colegas tiveram sangramento nasal devido à fumaça. Essas crianças não estão conseguindo respirar. A crise climática é uma questão de saúde pública.”

Mãe Nilce de Iansã, do candomblé, reforçou a conexão entre fé e natureza, lembrando que “cultuamos orixás, que são a própria natureza. Temos passado esse conhecimento a partir da oralidade”. Mãe Nilce abordou a questão do racismo religioso e a importância do respeito à diversidade religiosa. “Nossa fé e nossas tradições são fundamentais na luta pela justiça climática”, declarou. “Precisamos combater a intolerância religiosa e garantir que todas as vozes sejam ouvidas neste debate.” Ela também divulgou a pesquisa “Respeite o meu terreiro”, que busca combater o preconceito e a discriminação contra as religiões de matriz africana.

O evento ressaltou a necessidade de uma mobilização social ampla e inclusiva em favor da justiça climática, com a participação ativa das comunidades de fé, povos tradicionais e demais setores da sociedade. “A fé, em suas diversas manifestações, pode ser um motor de transformação social”, concluiu  Clemir Fernandes, pesquisador do Instituto de Estudos da Religião (ISER). “As comunidades religiosas, juntamente com os povos indígenas e demais ativistas, têm o potencial de promover a educação ambiental, o consumo consciente e a defesa da justiça climática, inspirando fiéis e pressionando governantes para a construção de um futuro mais sustentável para todos.” Marize Guarani, liderança indígena da etnia Guarani e defensora dos direitos dos povos da floresta.

 

 

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